I –
INTRODUÇÃO
O objetivo é esclarecer o assunto do dízimo
de uma maneira sucinta, utilizando as Escrituras Sagradas como fonte de
referência. Tendo em vista a relevância do tema, esta série de estudos será
dividida em três partes:
Parte
I - O dízimo na era patriarcal;
Parte
II - O dízimo durante a vigência do sistema sacerdotal levítico;
Parte
III - O dízimo no Novo Testamento.
Os relatos bíblicos serão analisados em
toda a sua abrangência e cada texto será interpretado com absoluta seriedade e
com total isenção. O tema é demasiadamente importante para passá-lo por alto e
é fundamental que todos os pastores se disponham a dialogar abertamente
sobre esta questão, isto porque, a indisposição por fazê-lo abre espaço para a
dúvida e insegurança.
Muitos professos cristãos têm manifestado
preocupação e preferem não se aprofundar nas investigações bíblicas sobre tão
importante assunto, porém, é bom lembrar que quando os propósitos de Deus são
assimilados sob a perspectiva correta, vitórias espirituais serão alcançadas.
A primeira parte desta série desvenda e
focaliza alguns conceitos errôneos, ensinados em muitas igrejas, baseados sobre a questão da entrega do dízimo na era patriarcal.
Afinal, esse dízimo era obrigatório e sistemático? Que lições extraímos
atualmente das experiências de Abrão (mais tarde chamado por Deus de Abraão) e
Jacó?
II –
O DÍZIMO DE ABRAÃO SOBRE OS DESPOJOS DE GUERRA
Abraão foi chamado por Deus a sair de sua
terra, Ur dos caldeus, cujos habitantes eram pagãos, para ir até Canaã. Em
obediência ao chamado de Deus, Abraão mudou-se para Harã, permanecendo lá até a
morte de seu pai. Ao partir para a terra de Canaã, diz a Palavra de Deus que
Abraão levou junto com ele a sua esposa Sara e o seu sobrinho de nome Ló, filho
de seu falecido irmão, bem como todos os bens que ele havia adquirido e as
pessoas que lhe foram acrescentadas em Harã (Gênesis 12:5). Devido à grande
quantidade de bens que Abraão e Ló possuíam, houve contenda entre os seus
pastores de gado. Os dois conversaram e pacificamente decidiram pela separação,
conforme está relatado em Gênesis 13. Abraão ficou em Canaã e Ló dirigiu-se
para os limites da cidade de Sodoma (Gênesis 13:12).
Tudo estava indo muito bem, até que
irrompeu um conflito na região. Cinco reis resolveram rebelar-se, cansados de
servir por doze anos ao rei de Elão, Quedorlaomer. Foram eles: Bera, rei de
Sodoma; Birsa, rei de Gomorra; Sinabe, rei de Admá; Semeber, rei de Zeboim;
Belá, rei de Zoar (vizinho ao Egito).
O rei de Elão, Quedorlaomer reagiu e
convocou outros três reis para sufocarem os rebeldes. Foram eles: Anrafel, rei
de Sinar (região da Babilônia); Arioque, rei de Elasar; Tidal, rei de Goim. Esta
guerra é denominada pelas Escrituras Sagradas como “A guerra de quatro reis
contra cinco” (Gênesis 14:1-17).
Os reis rebeldes, como não possuíam
experiência de combate, foram impiedosamente derrotados e subjugados pelas
forças comandadas pelo rei Quedorlaomer. Os vitoriosos saquearam as cidades da
planície e todo o povo foi levado cativo, os seus bens e todo o seu mantimento.
Inclusive Ló, que morava nos limites da cidade de Sodoma, foi levado preso e
todos os seus bens confiscados (Gênesis 14:12).
Abraão tomou conhecimento da calamidade que
sobreviera ao seu sobrinho Ló através uma pessoa que escapou da batalha. Movido
por uma profunda afeição por seu sobrinho, o patriarca Abraão decidiu
libertá-lo. Para isso ele convocou uma tropa de elite com trezentos e dezoito
bravos guerreiros, todos criados em sua casa e devidamente preparados para o
combate. Ele buscou também o apoio de três régios aliados, os irmãos Manre,
Escol e Aner, governadores das planícies dos amorreus, que se uniram a ele com
os seus grupos. Juntos partiram em perseguição dos invasores. A vitória foi
esmagadora. Todos os cativos foram libertados e todos os bens recuperados
(Gênesis 14:16).
Em seguida a Palavra de Deus registra o
encontro que Abraão teve com Melquisedeque, rei de Salém. Como sacerdote do
Deus Altíssimo, ele trouxe pão e vinho e pronunciou uma bênção sobre Abraão e
deu graças ao Senhor que operara um tão grande livramento por meio de Seu
servo. E Abraão deu-lhe o dízimo de tudo. (Gênesis 14:18-20; Hebreus 7:1 e 2)
Era costume que os despojos de guerra
ficassem com os vencedores. No entanto, Abraão não empreendera esta expedição
com o intuito de lucros, e recusou-se a tirar vantagens, estipulando apenas que
seus aliados recebessem a parte que tinham direito. Como exemplo há o relato da
insistência do rei de Sodoma para que Abraão ficasse com os bens materiais e
devolvesse apenas as pessoas seqüestradas por Quedorlaomer. Abraão lhe disse:
“Levantei
minha mão ao Senhor, o Deus altíssimo, o possuidor dos céus e da terra, que
desde um fio até a correia, dum sapato, não tomarei cousa alguma de tudo o que
é teu; para que não digas: Eu enriqueci a Abraão, salvo tão somente o que os
mancebos comeram, e a parte que toca aos varões que comigo foram, Aner, Escol e
Manre; estes que tomem a sua parte.” Gênesis 14:22-24.
Foi exatamente isto que Abraão fez. Após
descontar o custo operacional da guerra, ele devolveu aos seus legítimos donos
90% (noventa por cento) do que restou de todos os despojos recuperados e deu
10% (dez por cento) ao sacerdote Melquisedeque, baseado num costume dos povos
pagãos da antiguidade..
O texto bíblico diz que Abraão deu o dízimo
de tudo, não do seu patrimônio, mas unicamente dos despojos recuperados na
guerra. Este entendimento está em conformidade com o que está escrito em
Hebreus 7:4:
“Considerai,
pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu os dízimos dos
despojos.”
Não há registro bíblico de que este dízimo
era sistemático e obrigatório. Também não há registro da obrigatoriedade de
dizimar despojos de guerra.
Apesar de Abraão não ser um exemplo de
dizimista para os nossos dias, Deus não o condenou, pois “depois destas coisas
veio a palavra do Senhor a Abraão numa visão, dizendo: Não temas, Abraão; Eu
sou o teu escudo, o teu galardão será grandíssimo.” Gênesis 15:1.
III
– O DÍZIMO DE JACÓ
Quando o assunto é dízimo, não se pode
deixar de lado a história de Jacó. Jacó era filho de Isaque, neto de Abraão,
herdeiro da promessa e patriarca escolhido por Deus do qual descendeu o povo de
Israel.
Jacó estava indo em direção à Harã,
orientado por sua mãe, por causa do furor de seu irmão Esaú. “Partiu, pois,
Jacó de Beer-Seba e se foi em direção a Harã e chegou a um lugar onde passou a
noite, porque o sol já se havia posto; e tomando uma das pedras do lugar e
pondo-a debaixo da cabeça, deitou-se ali para dormir.” Gênesis 28:10 e 11.
Neste sonho Jacó viu uma escada alcançando
o céu, com os anjos de Deus subindo e descendo por ela. No sonho, Deus estava
de pé, acima da escada e disse a Jacó:
“Eu
sou o Senhor, o Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra em que
estás deitado, Eu a darei a ti e à tua descendência; e a tua descendência será
como o pó da terra; dilatar-te-ás para o ocidente, para o oriente, para o norte
e para o sul; por meio de ti e da tua descendência serão benditas todas as
famílias da terra. Eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que
fores, e te farei tornar a esta terra; pois não te deixarei até que haja
cumprido aquilo de que te tenho falado.” Gênesis 28:13-15.
Em resposta a estas promessas de Deus, Jacó
fez um voto:
“...
Se Deus for comigo e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer,
e vestidos para vestir; e eu em paz tornar à casa de meu pai, o Senhor será o
meu Deus; e esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo
quanto me deres, certamente te darei o dízimo.” Gênesis 28:20-22.
Sem dúvida alguma o histórico de Jacó é
espetacular, portanto, ele deveria ser considerado por aqueles que defendem a
teologia sistemática e obrigatória do dízimo como um dizimista exemplar. No
entanto, em se tratando deste assunto, os princípios contidos na história de
Jacó levam-nos a conclusões diversas:
a) Ao fazer um voto a Deus, Jacó estava
provando de que ele não era dizimista. Ao ser criado no rigor da religião
patriarcal, será que Jacó não aprendeu de seu avô e de seu pai esta prática,
caso ela realmente existiu? Voto é propor algo novo na busca de uma melhor
experiência espiritual. Como pode alguém fazer um voto de algo que já faz parte
de sua rotina?
b) O dízimo de Jacó era condicional:
primeiro a bênção, depois o dízimo. Importante observar que o ônus da prova
estava com Deus. Se Deus não o abençoasse, ele não daria o dízimo. As
instituições religiosas hoje ensinam o oposto. A bênção de Deus é condicional.
Primeiro o dízimo, depois as bênçãos.
c) Há um terceiro aspecto interessante
neste relato. Jacó propõe à Deus cinco condições agregadas:
1. Se Deus for comigo, e
2. Me guardar nesta viagem que faço, e
3. Me der pão para comer, e
4. Vestidos para vestir, e
5. Eu em paz tornar à casa de meu pai.
As cinco condições estão unidas pela
preposição “e” (Gênesis 28:20). Se Deus atendesse apenas quatro dos cinco itens
da lista de requisições, Jacó estaria automaticamente livre de cumprir o voto.
Ele pediu a presença de Deus + proteção + comida + roupa + paz. Segundo o voto
que Jacó fez, ele daria o dízimo se todas as condições fossem atendidas. Todas,
sem exceção.
Se Jacó deu o seu dízimo, não sabemos, pois
não há registro bíblico sobre isto. Apenas sabemos que todas as condições foram
atendidas por Deus ao longo dos 20 (vinte) anos seguintes, culminando com o seu
retorno à Canaã (Gênesis 31:38 e 33:18-20).
IV -
CONCLUSÃO
O exemplo de Abraão, além de refletir
apenas um fato isolado em sua vida, não nos parece ter sido de orientação
divina, mas um costume da sociedade de seus dias. Em nenhum momento é
mencionado e nem sequer sugerido que Abraão entregou o dízimo por força de lei.
O lado positivo desta ação está no respeito e na honra que ele prestou ao rei e
sacerdote Melquisedeque. Inclusive não há registro bíblico de Abraão ter
transmitido este ensinamento aos seus filhos.
No caso de Jacó, a entrega do dízimo estava
relacionada a um voto, efetuado em um momento de temor e dúvida. Também não
houve imposição legal ou orientação divina, nem tão pouco houve orientação de
seu pai Isaque e de seu avô Abraão para tal procedimento.
As experiências de Abraão e Jacó são os
únicos exemplos sobre a questão do dízimo encontrados na era patriarcal, antes
da lei ser dada a Moisés. Nos dois casos não há registro nas Escrituras
Sagradas que ele tenha sido obrigatório e sistemático. Além de ser uma prática
das civilizações pagãs da antiguidade, era também um sinal de gratidão e
devoção.
O
DÍZIMO DURANTE A VIGÊNCIA DO SISTEMA SACERDOTAL LEVÍTICO
I –
INTRODUÇÃO
Foi somente após a saída dos israelitas do
Egito que o dízimo passou a ser praticado por imposição legal. A lei que Moisés
recebeu de Deus previa que o dízimo tivesse uma destinação social. Além de
atender as necessidades dos levitas em seu cumprimento dos trabalhos no
Santuário, destinava-se também a ajudar os estrangeiros, órfãos e viúvas
(Deuteronômio 14:22-29).
O que dizem as Escrituras Sagradas sobre o
dízimo? Sobre o quê foi ele requerido? Ele era entregue em dinheiro ou em
mantimentos? Qual era a sua destinação? Estas e outras questões serão
analisadas à luz da Palavra de Deus em um contexto de obrigações durante a
vigência do sistema sacerdotal levítico.
II –
BREVE HISTÓRICO SOBRE A REGULAMENTAÇÃO DO DÍZIMO
Depois que o povo de Israel saiu do Egito,
eles vaguearam no deserto durante quarenta anos. Durante este período eles
viveram como nômades, situação que se aplica a quem não tem habitação fixa. A
vida nômade dos israelitas não permitia que eles tivessem propriedades, por
isso dedicavam-se à criação de animais como: ovelhas, cabras, vacas e bois.
Assim, tudo o que se produzia era distribuído entre todos. No deserto não havia
lavoura. Ao longo dos quarenta anos de peregrinação no deserto o povo foi
sustentado por Deus através o maná:
“Ora,
os filhos de Israel comeram o maná quarenta anos, até que chegaram a uma terra
habitada; comeram maná até que chegaram aos termos da terra de Canaã.” Êxodo
16:35.
Com o objetivo de preservar a pureza moral,
física e espiritual do povo, a maioria das leis foi dada aos israelitas
enquanto estavam acampados ao pé do monte do Sinai. O dízimo foi uma delas:
Também todos os dízimos da terra, quer dos
cereais, quer dos frutos das árvores, pertencem ao Senhor; santos são ao
Senhor. Se alguém quiser remir uma parte dos seus dízimos, acrescentar-lhe-á a
quinta parte. Quanto a todo dízimo do gado e do rebanho, de tudo o que passar
debaixo da vara, esse dízimo será santo ao Senhor.” Levítico 27:30-32.
A lei requeria que os israelitas dessem o
dízimo dos produtos da terra e do rebanho. Como os israelitas estavam no
deserto e ainda não tinham as suas terras, naquela situação que eles viviam era
lhes impossível entregar os dízimos dos cereais e dos frutos das árvores.
Percebe-se, todavia, que a conquista de Canaã estava nos projetos de Deus. Há
de se destacar que o dízimo do gado e do rebanho não seguia a mesma regra dos
frutos da terra. Não eram dois dízimos, mas diferentes conforme sua
procedência. Quanto aos animais, de acordo com estas instruções de Deus, o
proprietário contava-os conforme iam passando e cada décimo animal era dado a
Deus. Assim, não havia a possibilidade de selecionar animais inferiores para o
pagamento do dízimo dentre o rebanho. O texto bíblico de Levítico 27:30-32 não
dá detalhes a respeito de como os dízimos deveriam ser utilizados ou para quem
deveriam ser entregues. Apenas dizia que eles pertenciam ao Senhor..
Enquanto os israelitas ainda estavam
acampados ao pé do monte Sinai, regidos sob as leis escritas no Êxodo e
Levítico, Deus decidiu que chegara a hora de eles marcharem para Canaã. Assim,
o Senhor ordenou que fosse realizado o censo de todos os homens acima de vinte
anos capazes de lutar em combate. Este censo excluiu os homens da tribo de Levi
cujo motivo fazia parte dos planos de Deus (Números 1:1-3 e 47-51).
Mesmo peregrinando temporariamente no
deserto e vivendo em acampamentos, os israelitas tinham a obrigação de realizar
o culto sagrado e oferecer à Deus sacrifícios e ofertas. Para poderem realizar
o culto sagrado, Deus pediu à Moisés que providenciasse a construção de um
Santuário (Êxodo 25:1-9). Ele era um edifício portátil, de maneira que podia
ser desmontado e facilmente transportado. Por determinação de Deus, coube aos
levitas a responsabilidade dos serviços no Santuário. Cabe aqui uma pergunta:
Por que Deus escolheu a tribo de Levi? Esta escolha deu-se provavelmente na
época quando Moisés, indignado por causa da idolatria praticada pelo povo de
Israel, lançou um repto: “Quem é do Senhor venha a mim.” Êxodo 32:26. Israel
hesitou. De toda aquela vasta multidão apenas uma tribo ousou pôr-se à frente:
“Então se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi.” Êxodo 32:26. Esse corajoso
ato da parte da tribo de Levi certamente influiu em sua escolha para o serviço
de Deus. O ofício sacerdotal foi reservado para Arão e seus descendentes,
enquanto os outros trabalhos auxiliares ficaram sob encargo dos demais
integrantes da tribo de Levi (Êxodo 28:41; Números 1:47-51; Números 3:1-8).
Além de eles terem sido separados por Deus
para o serviço no Santuário, os levitas foram os únicos a não receber terra
como herança (Números 18:20; Josué 13:33) e nem podiam dedicar-se ao trabalho
secular. Por esta razão o mandamento requeria que eles fossem sustentados com
os dízimos, os quais eram em forma de mantimentos entregues pelas demais tribos
de Israel como recompensa pelos seus trabalhos no Santuário. A esse respeito
Deus declara o seguinte:
“Eis
que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo
serviço que prestam, o serviço da tenda da revelação. ...Porque os dízimos que
os filhos de Israel oferecerem ao Senhor em oferta alçada, Eu os tenho dado por
herança aos levitas; porquanto Eu lhes disse que nenhuma herança teriam entre
os filhos de Israel.” Números 18:21 e 24.
Faz-se necessário ressaltar que, de acordo
com essa lei, os sacerdotes tinham o direito de receber dos levitas o dízimo do
dízimo que era entregue pelo povo (Números 18:26-28). Outro detalhe importante
é que o dízimo podia ser comido por suas famílias em qualquer lugar (Números
18:31), prática esta válida enquanto viviam como nômades.
Completados os quarenta anos de
peregrinação no deserto (Deuteronômio 1:3), finalmente a nação de Israel
encontrava-se na terra de Moabe, a leste do rio Jordão, preparando-se para a
posse da sua herança. Os israelitas então deixariam de ser nômades, para se
fixarem nos limites prometidos por Deus. Neste contexto, a legislação do dízimo
sofreu algumas adaptações, com a previsão da entrada dos israelitas na terra
prometida. No capítulo 12 do livro de Deuteronômio, a lei previa que o dízimo
da lavoura e os primogênitos das vacas e ovelhas seriam compartilhados entre o
ofertante, sua casa e o levita, não em qualquer lugar, mas num único lugar de
culto escolhido por Deus, que era o Santuário central (Deuteronômio 12:1-19).
Tendo em vista a nova etapa de vida
religiosa da nação de Israel, o povo abandonaria o antigo costume de vida
nômade e, além da pecuária, os israelitas passariam a desenvolver a agricultura
e o comércio. Na seqüência o texto de Deuteronômio 14:22-29 apresenta outras
particularidades relacionadas à aplicabilidade do dízimo.
O plano de Deus era que os produtos
extraídos da terra atendessem aos anseios espirituais da nação de Israel e
servissem para uma melhor justiça social. O dízimo, oriundo da produção da terra,
de ano em ano era levado perante Deus, no lugar que Ele escolhera para ali
fazer habitar o Seu nome (Deuteronômio 14:23). Esse lugar evidentemente era o
Santuário central e mais tarde o Templo. Era permitido que o dízimo fosse
comido pelo próprio dizimista, sua casa e o levita. No entanto, a cada terceiro
ano ele era deixado para os levitas, os estrangeiros, órfãos e viúvas
(Deuteronômio 14:28 e 29).
Durante a vigência do sistema levítico,
esta legislação por várias vezes foi desrespeitada ou negligenciada pelos
israelitas. No entanto, a história bíblica relata que homens tementes a Deus
reconduziam o povo, conscientizando-o quanto a obrigatoriedade da sua
observância (II Crônicas 31:1-6; Neemias 10:28, 29, 37 e 38; Malaquias 2:1-9;
3:7-10).
Profissões não ligadas à agropecuária
estavam desobrigadas de entregar os dízimos, tais como: artesãos, padeiros,
carpinteiros, cozinheiros, guardas, pescadores, mestres de obra, ourives,
caçadores, mercadores, músicos, alfaiates, coletores de impostos, ferreiros,
etc. Não há citação bíblica de que os rendimentos do trabalho desses
profissionais podiam ser cambiados ou compensados por ovelhas ou grãos a fim de
se cumprir os procedimentos dos dízimos.
A última referência bíblica que trata do
dízimo durante a vigência do sistema sacerdotal levítico encontra-se em Mateus
23:23 e Lucas 11:42, quando o Senhor Jesus censurou os escribas e fariseus,
chamando-os de hipócritas, porque davam o dízimo da hortelã, do endro e do
cominho, e tinham omitido o que havia de mais importante na lei, que era a
justiça, a misericórdia e a fé. Nestes textos está registrado que Jesus apoiou
o ato de dizimar, isto porque Ele ainda estava exercendo o Seu ministério sob a
vigência do sistema levítico, cuja obrigatoriedade estendeu-se até a Sua morte,
quando o véu rasgou-se de cima até em baixo (Mateus 27:51). Diz a Palavra de
Deus que, com a mudança do sacerdócio levítico, “necessariamente se faz também
mudança da lei.” Hebreus 7:12.
III
– O DÍZIMO ERA EM MANTIMENTO OU DINHEIRO?
O dízimo era mantimento e não dinheiro.
Todas as passagens bíblicas que tratam sobre esse assunto, descrevem o dízimo
como sendo parte do produto da terra, da semente do campo, do fruto das
árvores, do gado e do rebanho. Os textos abaixo não deixam dúvidas a esse respeito:
“Também
todos os dízimos da terra, quer dos cereais, quer do fruto das árvores,
pertencem ao Senhor; santos são ao Senhor. ...Quanto a todo dízimo do gado e do
rebanho, de tudo o que passar debaixo da vara, esse dízimo será santo ao
Senhor.” Levítico 27:30 e 32.
“Certamente
darás os dízimos de todo o produto da tua semente que cada ano se recolhe do
campo. E perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer
habitar o Seu nome, comerás os dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite,
e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas... Ao fim de cada terceiro
ano levarás todos os dízimos da tua colheita do mesmo ano, e os depositarás
dentro das tuas portas. Então virá o levita, o estrangeiro, o órfão e a viúva,
que estão dentro das tuas portas, e comerão e fartar-se-ão, para que o Senhor
teu Deus te abençoe em toda obra que as tuas mãos fizerem.” Deuteronômio 14:22,
23,28 e 29.
Muito importante é a experiência de
Ezequias, rei de Judá, quando ordenou a entrega do dízimo que o povo havia
negligenciado:
“Além
disso ordenou ao povo que morava em Jerusalém que desse a porção pertencente
aos sacerdotes e aos levitas, para que eles se dedicassem à lei do Senhor. Logo
que esta ordem se divulgou, os filhos de Israel trouxeram em abundância as
primícias de trigo, mosto, azeite, mel e todo produto do campo; também
trouxeram em abundância o dízimo de tudo. Os filhos de Israel e de Judá que
habitavam nas cidade de Judá também trouxeram o dízimo de bois e de ovelhas, e
o dízimo das coisas dedicadas que foram consagradas ao Senhor se Deus, e
depositaram-nos em montões. ...Então ordenou Ezequias que se preparassem
câmaras na casa do Senhor; e as prepararam. Ali recolheram fielmente as
ofertas, os dízimos e as coisas dedicadas. ...” II Crônicas 31:4-6; 11 e 12.
Neste texto o que chama a atenção são as
câmaras preparadas na casa de Deus durante o reinado de Ezequias, para depósito
dos produtos provenientes das ofertas, dos dízimos e das coisas dedicadas.
Na época de Neemias estas câmaras eram
chamadas de “câmaras dos tesouros” (Neemias 12:44) e mais tarde como “casa do
tesouro” (Malaquias 3:10).
Quando Neemias reintegrou os levitas nas
suas funções no templo, após o exílio babilônico, o dízimo que se recolhia dos
campos voltou a ser entregue pelo povo:
“No
mesmo dia foram nomeados homens sobre as câmaras dos tesouros para as ofertas
alçadas, as primícias e os dízimos, para nelas recolherem, dos campos das
cidades, os quinhões designados pela lei para os sacerdotes e para os levitas;
pois Judá se alegrava por estarem os sacerdotes e os levitas no seu posto.
...Então todo o Judá trouxe para os celeiros os dízimos dos cereais, do mosto e
do azeite.” Neemias 12:44 e 13:12.
Mais ou menos na mesma época de Neemias,
uma outra voz se levantou contra a corrupção e roubo dos sacerdotes. O
mensageiro de Deus, Malaquias, anunciou o castigo aos chefes religiosos de
Jerusalém por terem se desviado do caminho e por terem desobedecido à lei.
Considerou-os desprezíveis e indignos diante de todo o povo (Malaquias 2:1, 8 e
9) por terem roubado a Deus nos dízimos e nas ofertas alçadas (Malaquias 3:7 e
8). Para restaurar os trabalhos no Santuário, Deus ordenou o seguinte:
“Trazei
todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa,
...” Malaquias 3:10.
O dízimo era sagrado e servia também de
mantimento para sustentar aos que trabalhavam no Santuário.
A Palavra de Deus apresenta uma situação em
que o dízimo podia ser remido:
“Se
alguém quiser remir uma parte dos seus dízimos, acrescentar-lhe-á a quinta
parte.” Levítico 27:31.
O texto acima deixa claro que se alguém
quisesse remir uma parte do dízimo, podia fazê-lo, mas havia uma penalidade de
20% sobre esse montante.
Em Deuteronômio 14:24-27 era permitido ao
ofertante vender os produtos classificados como dízimo.Era um procedimento que
poderia ser adotado por aqueles que não tinham condições de levar seus
produtos, por morarem longe, os quais poderiam ser vendidos, e com o dinheiro
da venda, comprados outros em seu lugar, no local onde se realizaria o ato de
adoração a Deus. O texto deixa claro que o dízimo não era baseado em dinheiro,
pois, se fosse, não haveria problemas em levar esses dízimos em viagens de
longas distâncias.
O fato de o dízimo estar relacionado a
mantimentos não significa que não havia circulação de dinheiro naquela época.
Dinheiro já existia desde o tempo de Abraão. A seguir alguns exemplos:
- A sepultura de Sara foi comprada por
Abraão por 400 siclos de prata (Gênesis 23:15 e 16);
- Os irmãos de José desceram ao Egito para
comprar trigo (Gênesis 42:3) e o dinheiro foi restituído por José (Gênesis
42:25).
- Algumas taxas para o templo só eram
aceitas em dinheiro (Êxodo 30:14-16);
- Para a construção do santuário, as
despesas foram pagas em dinheiro (Êxodo 38:24-31);
- Davi comprou bois (II Samuel 24:24);
- O rei Jeoiaquim pagou à Faraó tributos
(II Reis 23:33-35);
- Dinheiro que o povo trouxe para a
reparação do templo (II Reis 22:4-7);
- Jeremias comprou um campo com dinheiro
(Jeremias 32:9-11);
A viúva pobre colocou dinheiro no cofre do
templo (Marcos 12:42).
IV -
CONCLUSÃO
O sistema sacerdotal levítico e suas leis
associadas às atividades do Santuário duraram enquanto os levitas exerceram o
sacerdócio no Santuário terrestre. Quando o Senhor Jesus foi sacrificado e
morto, esse sistema deixou de existir. Um novo modelo de sacerdócio foi
inaugurado, um sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque. Conseqüentemente,
de acordo com a Palavra de Deus, “mudando-se o sacerdócio, necessariamente se
faz também mudança da lei.” (Hebreus 7:11 e 12). E a lei no contexto de Hebreus
7:5-12 abrangia o mandamento do dízimo. Isto significa que quando o sacerdócio
levítico e suas leis foram extintos, o mandamento que obrigava a entrega do
dízimo também foi extinto por causa da sua fraqueza e inutilidade (Hebreus
7:18). Esta conclusão é óbvia, pois uma parte do dízimo durante a vigência do
sistema sacerdotal levítico tinha aplicações diretamente relacionadas às
atividades do Santuário e, portanto, inviáveis de serem cumpridas nos dias de
hoje, pelas seguintes razões:
a) O dízimo servia para sustentar os
levitas em suas atividades no Santuário.
Os levitas eram descendentes da tribo de
Levi. A lei requeria que parte dos dízimos fosse entregue a eles, como
recompensa pelos serviços prestados no Santuário (Números 18:21 e 24).
b) Do dízimo recebido pelo povo, os levitas
tinham que entregar o dízimo do dízimo aos sacerdotes.
Os sacerdotes tinham que ser descendentes
da tribo de Levi e ao mesmo tempo descendentes diretos de Arão. Eles eram
responsáveis pelos sacrifícios no Santuário (Números 18:25-28; Êxodo 40:12-15).
A quem o povo entrega hoje seus dízimos?
Muitas instituições religiosas, com intuito de conscientizarem o povo quanto à
obrigatoriedade da entrega do dízimo, incluem em seus pontos fundamentais de fé
textos bíblicos relacionados ao antigo e extinto sistema sacerdotal levítico. O
assunto é muito sério. Os próprios líderes religiosos estão contrariando a
antiga lei que eles defendem, pois os dízimos que hoje estão sendo entregues
não atendem aos requisitos básicos dessa lei, ou seja, não estão sendo
entregues aos levitas, descendentes da tribo de Levi e muito menos à
sacerdotes, descendentes da família de Arão.
Aqueles que insistem em observar aquela
extinta lei, cometem outros equívocos. O termo “dízimo” faz referência a
“mantimentos” e não “dinheiro”. A lei permitia que parte desse dízimo fosse
comido pelo próprio dizimista (Deuteronômio 14:23) e em cada três anos uma
parte fosse destinada a alimentar, os levitas, os estrangeiros, órfãos e viúvas
(Deuteronômio 14:28 e 29).
Lembre-se: O modelo sacerdotal atualmente
vigente é o de Melquisedeque e, segundo esse modelo, o dízimo deixou de ser
obrigatório. Será que as nossas dádivas, em vez de serem obrigatórias, não
deveriam ser espontâneas e regadas com amor? Quais são as instruções de Jesus e
dos apóstolos a esse respeito? O próximo tema abordará amplamente todas estas
questões.
O
DÍZIMO NO NOVO TESTAMENTO
I –
INTRODUÇÃO
Fazer a vontade de Deus deveria ser a meta
primordial de todos e, para se cumprir esta vontade, é imprescindível conhecer
a Palavra de Deus, principalmente o conhecimento do ensino bíblico sobre o dar
na nova aliança. Logo após a morte de nosso Senhor Jesus a prioridade do povo
de Deus era marcada em seus primórdios pelo amor a Deus e ao próximo,
notadamente pelo cuidado com os mais pobres e mais necessitados. Ainda hoje a
vontade de Deus é que Seu povo seja reconhecido de todos os demais povos por
este amor.
Existem alguns questionamentos muito
importantes que precisam de respostas: Qual foi a posição de nosso Senhor Jesus
sobre o assunto do dízimo? Os apóstolos abordaram essa questão em suas
epístolas? Quando foi introduzida a sistemática obrigatória de dizimar no
cristianismo?
A análise deste assunto constitui-se em um
verdadeiro clamor de alerta para o povo de Deus, o qual, comprometido com a
verdade, tem a incumbência de refletir o caráter de Deus e fazer transbordar o
Seu amor neste mundo pervertido e cruel.
II –
JESUS E O DÍZIMO
O nosso Senhor Jesus Cristo é o ponto
central onde se encontraram a antiga e a nova aliança. A nova aliança não teve
princípio no nascimento de Jesus, mas na Sua morte. A conclusão é óbvia: Deus
revogou o primeiro pacto, que dependia da morte de animais, para estabelecer o
segundo pacto, que dependia da morte de Cristo (Hebreus 9:15-17; 10:9 e10; I
Coríntios 11:25). As normas associadas aos sacrifícios de animais e às
atividades gerais no Santuário apontavam para o maior e perfeito sacrifício que
se concretizaria no Calvário.
Todas as palavras de Jesus encontradas nos
quatro Evangelhos, proferidas antes de Sua morte, foram ditas durante a
vigência do sistema sacerdotal levítico, período em que a entrega do dízimo
ainda era obrigatória, conforme determinava a lei. Há poucas referências sobre
o dízimo durante o desempenho do ministério de nosso Senhor Jesus Cristo e em
nenhuma delas é mencionado que Jesus deu o dízimo. Como Jesus não exercia a
atividade agropecuária, Ele estava isento de dizimar. A lei assim o determinava
(ver estudo: O dízimo durante a vigência do sistema sacerdotal levítico). Não
há registro de que Ele tivesse sido cobrado ou acusado pelos fariseus por causa
disto.
Os únicos textos encontrados são:
“Ai
de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque dais o dízimo da hortelã, do
endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a
saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer,
sem omitir aquelas.” Mateus 23:23.
“Mas
ai de vós, fariseus! Porque dais o dízimo da hortelã, e da arruda, e de toda
hortaliça, e desprezais a justiça e o amor de Deus. Ora, estas coisas importava
fazer, sem deixar aquelas.” Lucas 11:42.
“Jejuo
duas vezes na semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho.” Lucas 18:12.
Em todas estas citações, o Senhor Jesus
colocou a questão do dízimo numa situação secundária. Ao proferir estas
palavras, Ele tinha como principal objetivo repreender os fariseus, por serem
orgulhosos e por terem omitido o que era mais importante da lei: a prática da
justiça, da misericórdia e da fé.
As denominações religiosas que defendem a
validade do dízimo com base no que está escrito em Mateus 23:23 e Lucas 11:42,
certamente não aceitariam hoje o dízimo da hortelã, do endro, do cominho, da
arruda e de toda hortaliça para manterem as suas gigantescas estruturas
institucionais e além disso, provado está através dos textos citados que o
dízimo não era entregue em dinheiro.
III
– O LIVRO DE HEBREUS E O DÍZIMO
O termo “dízimo” também encontra-se
registrado no capítulo 7 da epístola aos Hebreus. Antes de tirar quaisquer
conclusões, recomenda-se analisar todo o contexto. O assunto tratado neste
capítulo não faz referência se o dízimo deve ou não ser praticado nos dias de hoje
e nem faz referência quando dizimar e onde entregá-lo. A realidade é que o
autor da carta tinha como objetivo mostrar a superioridade do sacerdócio de
Cristo em relação ao sacerdócio de Arão, usando Melquisedeque como um tipo de
Cristo. O profeta Davi também já havia profetizado que o Messias seria
“sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisideque.” Salmos 110:4. A
questão é que o sacerdote e rei Melquisedeque viveu antes do nascimento de
Isaque, portanto, não era descendente da tribo de Levi (um dos netos de
Isaque). O autor do livro de Hebreus apenas queria mencionar que a esse
Melquisedeque o patriarca Abraão deu o dízimo sobre os despojos de guerra,
conforme relatado em Gênesis 14:18-20.
Este assunto tinha que ser esclarecido
principalmente àqueles que ainda seguiam os rituais de sacrifícios da antiga
aliança. Nos capítulos 7 a 10, o autor deixa bastante claro que o objetivo é
demonstrar a superioridade do sacerdócio de Jesus sobre o sacerdócio de Arão. O
antigo sistema sacerdotal baseado no parentesco de Arão foi cancelado por Deus,
porque ele era fraco e inútil para salvar o povo de seus pecados (Hebreus
7:18). A esse respeito o autor do livro de Hebreus faz a seguinte indagação:
“...se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (pois sob este o povo recebeu
a lei), que necessidade havia ainda de que outro sacerdote se levantasse,
segundo a ordem de Melquisedeque, e que não fosse contado segundo a ordem de
Arão?” Hebreus 7:11. Em seguida diz a Palavra de Deus que “mudando-se o
sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei.” Hebreus 7:12. A
mudança da lei era necessária porque Cristo não pertencia à genealogia da tribo
de sacerdotes de Levi, mas proveio da tribo de Judá. Conforme determinava a
lei, nos quesitos que regulavam as atividades no Santuário, a tribo de Judá não
podia exercer o sacerdócio porque ela não havia sido escolhida por Deus para
esse serviço.
Assim, todas as cerimônias associadas aos
sacrifícios realizadas no Santuário foram abolidas com a morte de Cristo, pois
elas apenas tipificavam a “oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para
sempre.” Hebreus 10:10. Aqueles cerimoniais eram sombras da realidade que é
Cristo, o qual alcançou um “ministério tanto mais excelente, quanto é mediador
de um melhor pacto, o qual está firmado sobre melhores promessas”. Hebreus 8:6.
Cristo Se manifestou, “para aniquilar o pecado pelo sacrifício de Si mesmo.”
Hebreus 9:26.
O autor da epístola aos Hebreus tinha como
objetivo principal focar a questão da mudança de modelo sacerdotal e não
imprimir uma base doutrinária sobre o dízimo. Aliás, tomar como exemplo a
experiência de Abraão, para fundamentar uma tese sobre a obrigatoriedade do
dízimo, não é muito razoável pelas seguintes razões:
a) Abraão entregou o dízimo (a décima
parte) apenas sobre os despojos de guerra (Hebreus 7:4);
b) Abraão devolveu os outros 90% (noventa
por cento) aos legítimos donos, depois de descontar as despesas com a guerra
(Gênesis 14:22-24);
c) Não há registro bíblico de que aquele
dízimo entregue por Abraão era sistemático ou obrigatório em função de alguma
prescrição legal e muito menos de ele ter sido calculado sobre os seus ganhos
financeiros e/ou patrimônio pessoal.
O verdadeiro povo de Deus não se baseia em
suposições, mas fundamenta os seus ensinamentos num claro “Assim diz o Senhor”.
IV –
O DÍZIMO FOI PRATICADO DURANTE A ERA APOSTÓLICA?
Não há registro da prática do dízimo entre
os primeiros cristãos, notadamente durante a era apostólica, depois de Cristo.
Vivendo esta nova experiência, o remanescente povo de Deus não mais estava sob
o antigo pacto. Diz o relato bíblico que “todos os que creram estavam juntos e
tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto
entre todos, à medida que alguém tinha necessidade.” Atos 2:44-45 Não havia
necessitados entre eles, pois não estavam nos planos deles a construção de
templos e nem o pagamento de salários aos obreiros, mas o que havia entre
aquele povo era a prática do amor pelo próximo. As atitudes eram claras e
transparentes:
“Da
multidão dos que criam, era um só o coração e uma só a alma, e ninguém dizia
que coisa alguma das que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram
comuns. Com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição do
Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça. Pois não havia entre eles
necessitado algum, porque todos os que possuíam terras, ou casas, vendendo-as,
traziam o preço do que vendiam e o depositavam aos pés dos apóstolos. E se
repartia a qualquer um que tivesse necessidade.” Atos 4:32-35.
As dádivas entre o remanescente povo de
Deus não eram impostas por mandamento, ou por uma ordem legal, ou por exigência
de se contribuir com um percentual qualquer sob ameaça de maldição, mas, era
resultado de um relacionamento íntimo com Deus.
O Senhor Jesus, durante o Seu ministério,
deu muita ênfase sobre a importância de cultivar o amor ao próximo:
a) A história do jovem rico (Mateus 19:21);
b) A recompensa aos que praticarem a
beneficência (Mateus 25:34-40).
O evangelho não é sinônimo de dinheiro, mas
é o exercício do verdadeiro amor. O apóstolo Paulo diz o seguinte: “E ainda que
distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que
entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me
aproveitaria.” I Coríntios 13:3.
Contrariando as orientações de Deus, muitas
instituições religiosas fazem do evangelho uma fonte de recursos materiais.
Difícil harmonizar tais atitudes com as palavras de Jesus, quando disse: “...de
graça recebestes, de graça dai.” Mateus 10:8. Por que não seguir esta sábia
orientação de nosso Mestre e Salvador?
O amor é a motivação principal para o “dar”
nesta nova aliança instituída por nosso Senhor Jesus. Nos capítulos 8 e 9, na
segunda carta de Paulo aos coríntios, encontram-se diversas orientações e
informações sobre como os primeiros cristãos conduziam o seu caminhar quanto ao
sustento da obra de Deus. É interessante que o dízimo não é mencionado nestes
textos e nem em I Coríntios 9, onde o apóstolo Paulo faz declarações
reveladoras para aqueles que anunciam o evangelho. Referindo-se aos LEVITAS,
ele escreveu:
“Não
sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E
que os que servem ao altar, participam do altar? I Coríntios 9:13.
Na seqüência ele transmitiu o seguinte:
“Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do
evangelho. MAS EU DE NENHUMA DESTAS COISAS TENHO USADO. Nem escrevo isto para
que assim se faça comigo; porque melhor me fora morrer, do que alguém fazer vã
esta minha glória.” I Coríntios 9:14 e15.
Mais adiante o apóstolo afirma: “Logo, qual
é a minha recompensa? É que, pregando o evangelho, eu o faça GRATUITAMENTE,
para não usar em absoluto do meu direito no evangelho.” I Coríntios 9:18.
Por que não imitar o exemplo digno do
apóstolo Paulo?
É importante lembrar que “a religião pura e
imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas
suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo.” Tiago 1:27.
V -
CONCLUSÃO
Depois de Cristo, o povo remanescente de
Deus não mais entregava o dízimo, porém, fazia suas contribuições
voluntariamente. Com a entrada da apostasia, algumas mudanças ocorreram no seio
do cristianismo apóstata. Em 585 d.C., no terceiro concílio de Mâcon, convocado
por ordem do rei da Borgonha, o qual reuniu os bispos da Borgonha e os da
Nêustria, foram promulgados vinte cânones e entre esses cânones havia um que
determinava a excomunhão de todos aqueles que não pagavam o dízimo à igreja. Quase
dois séculos depois, sob o comando de Carlos Magno, o poder civil apoiou a
legislação eclesiástica, confirmando-a com uma sanção civil, tornando
obrigatório o pagamento do dízimo à igreja de Roma. Assim, a prática
obrigatória do dízimo foi restabelecida por iniciativa da Igreja de Roma. Nos
séculos XVIII e XIX essa obrigação foi temporariamente abolida por pressões de
setores sociais e industriais, pelo fato de as quantias arrecadadas não terem
sido devidamente aplicadas aos fins estipulados pela legislação eclesiástica e
civil. No século XX a Igreja de Roma voltou a implantar gradativamente em suas
bases eclesiásticas a prática do dízimo como um sistema de contribuição
sistemática e periódica em substituição ao sistema de taxas. Infelizmente esta
prática da Igreja de Roma está sendo copiada por muitos segmentos religiosos
nos dias atuais.
Estar isento do dízimo não quer dizer estar
isento de responsabilidades para com a obra de Deus. Todos os dons devem ser
ministrados individualmente com responsabilidade e de acordo com as orientações
de Deus.
Deus não pede de nós o impossível e nem o
irrazoável, apenas uma completa consagração a Ele. A esse respeito o apóstolo
Paulo diz o seguinte:
“Rogo-vos,
pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não
vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente,
para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”
Romanos 12:1 e 2.
O
ALVO DAS ADVERTÊNCIAS DE DEUS NO LIVRO DE MALAQUIAS
I –
INTRODUÇÃO
O Livro de Malaquias, no tradicional cânon
judaico, ocupa o último lugar entre os escritos dos chamados profetas menores,
tendo sido escrito após o exílio babilônico, quando o Templo de Jerusalém já
havia sido reedificado, pois há claras indicações que os sacrifícios e festas
achavam-se plenamente restaurados. O Templo anterior tinha sido incendiado por
Nebuzaradão, general de Nabucodonosor (II Reis 25:8 e 9).
O profeta Malaquias era um judeu de firmes
convicções, de rigorosa integridade e de intensa devoção a Deus. Ele era
contemporâneo de Neemias (comparar Malaquias 2:8 com Neemias 13:29 e Malaquias
2:10-16 com Neemias 13:23) e de Esdras (comparar Malaquias 2:11 com Esdras 9:1
e 2). Em seus escritos há uma repreensão severa contra os sacerdotes que se converteram
em pedras de tropeço em vez de serem líderes espirituais para o povo.
Embora o Livro tenha apenas quatro
capítulos, infelizmente poucos são os que verdadeiramente têm se debruçado para
entender todo o seu contexto. Esta é a razão porque há tantas interpretações
equivocadas e tendenciosas quanto ao texto de Malaquias 3:8-10. Quando Deus
disse: “Todavia vós Me roubais... nos dízimos e nas ofertas alçadas” (Malaquias
3:8), Ele estava direcionando estas palavras a quem? Esta questão deve ser
analisada em todo o seu contexto histórico à luz da Palavra de Deus.
II –
A QUEM SE DESTINAVA A MENSAGEM?
Na parte introdutória do livro é mencionado
que a mensagem de Deus foi dada a “Israel, por intermédio de Malaquias.”
Malaquias 1:1.
Após o exílio babilônico, a decadência de
Israel em termos espirituais era notória. Esta decadência teve como causa a
corrupção moral e doutrinária de seus líderes religiosos. A exposição dos fatos
no livro de Malaquias, indica que a principal queixa de Deus foi contra os sacerdotes,
claramente explicitada a partir do verso 6
“O
filho honra o pai, e o servo ao seu amo; se Eu, pois, sou pai, onde está a
Minha honra? E se Eu sou amo, onde está o temor de Mim? Diz o Senhor dos
exércitos a VÓS, Ó SACERDOTES, que desprezais o Meu nome. E vós dizeis: Em que
temos nós desprezado o Teu nome?” Malaquias 1:6.
O texto indica de que houve um desvio de
conduta por parte dos sacerdotes, sendo culpados de desprezarem o nome de Deus.
Eles perderam o relacionamento pessoal com Ele. Os sacerdotes do templo, em
desobediência à lei que regulamentava as atividades do Templo, indevidamente
recolhiam todas as ofertas do povo, nada deixando para os levitas, os órfãos,
as viúvas e estrangeiros. Os sacerdotes transformaram-se em profissionais da
religião e totalmente divorciados de Deus.
As passagens seguintes fornecem maiores
detalhes, especificando os pecados cometidos pelos sacerdotes, não todos, mas
aqueles que eram arrogantes e desonestos. Eles foram culpados de profanarem o
nome de Deus e de oferecerem no altar sagrado ofertas inaceitáveis, tais como
animais cegos, coxos e enfermos (Malaquias 1:7-14). Deus fala especificamente
aos sacerdotes e não ao povo, pois eram os sacerdotes que acendiam o fogo no
altar (Malaquias 1:10).
O capítulo 2 de Malaquias prossegue com a
condenação de Deus aos SACERDOTES:
“Agora,
ó SACERDOTES, este mandamento é para VÓS.” Malaquias 2:1.
Após descrever alguns pecados deles
(Malaquias 1:6-14), Deus agora descreve o seu castigo:
“Se
não ouvirdes, e se não propuserdes no vosso coração dar honra ao Meu nome, diz
o Senhor dos exércitos, enviarei a maldição contra vós, e amaldiçoarei as
vossas bênçãos; e já as tenho amaldiçoado, porque não aplicais a isso o vosso
coração. Eis que vos reprovarei a posteridade, e espalharei sobre os vossos
rostos o esterco, sim, o esterco dos vossos sacrifícios; e juntamente com este
sereis levados para fora.” Malaquias 2:2 e 3.
Não se deve esquecer que a aliança de Deus
com Israel incluía a Sua específica aliança com os sacerdotes da tribo de Levi.
No entanto, Deus disse que os SACERDOTES corromperam o pacto de Levi:
“Então
sabereis que Eu vos enviei este mandamento, para que o Meu pacto fosse com
Levi, diz o Senhor dos exércitos. Meu pacto com ele foi de vida e de paz e Eu
lhas dei para que Me temesse; e ele Me temeu, e assombrou-se por causa do Meu
nome. A lei da verdade esteve na sua boca, e a impiedade não se achou nos seus
lábios; ele andou comigo em paz e em retidão, e da iniqüidade apartou a muitos.
Pois os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem
os homens procurar a instrução, por que ele é o mensageiro do Senhor dos
exércitos. Mas vós vos desviastes do caminho; a muitos fizestes tropeçar na
lei; corrompestes o pacto de Levi, diz o Senhor dos exércitos.” Malaquias
2:4-8.
Como conseqüência, Deus os fez
“desprezíveis e indignos diante de todo o povo,...” (Malaquias 2:9).
Deus continua falando aos SACERDOTES em
Malaquias.2:10-17, condenando-os por causa dos casamentos com mulheres
estrangeiras. Deus censurou a hipocrisia dos sacerdotes, por continuarem a
oferecer sacrifícios, enquanto viviam em rebelião. Esta conclusão é obvia, pois
Malaquias 2:13 tem uma forte relevância contra os sacerdotes, por terem sido
eles os que literalmente choravam sobre o altar. O povo de Judá e Israel não
tinha acesso direto ao altar.
Com relação aos casamentos mistos com
mulheres pagãs, a mesma situação ocorreu no tempo de Neemias, ocasião em que
Deus sentia-Se muito desgostoso com os sacerdotes (Neemias 13:27-30).
Em Malaquias 3:1-5 a repreensão de Deus é
novamente dirigida aos SACERDOTES. Nestes textos, ao anunciar o envio do
“mensageiro”, uma profecia cumprida mais tarde na pessoa de João Batista, que
prepararia o caminho do Messias, Deus anunciou que o juízo começaria pelo “Seu
Templo”, para purificar “os filhos de Levi”. Esta associação de palavras:
“templo”, “filhos de Levi”, tudo tem a ver com o sacerdócio levítico. Com a
centralização de poder por parte dos sacerdotes, as normas de Deus foram
desvirtuadas, desobedecidas e as coisas santas foram profanadas. Como
conseqüência, os sacerdotes, detentores de todo o poder, passaram a oprimir as
viúvas, os órfãos e os estrangeiros, por não repassarem os dízimos que lhes
eram devidos. Estes dízimos não eram em dinheiro, mas em forma de alimentos.
Esta prática perversa já tinha sido denunciada por Deus através o profeta
Ezequiel:
“Os
seus sacerdotes transgridem a Minha lei, e profanam as Minhas cousas santas;
entre o santo e o profano não fazem diferença; nem discernem o impuro do puro;
e de Meus sábados escondem os seus olhos, e assim sou profanado no meio deles.
Os seus príncipes no meio dela são como lobos que arrebatam a presa, para
derramarem o sangue, para destruírem as almas, para seguirem a avareza. E os
seus profetas têm feito para eles reboco de cal não adubada, vendo vaidade, e
predizendo-lhes mentira, dizendo: Assim diz o Senhor Jeová; sem que o Senhor
tivesse falado. Ao povo da terra oprimem gravemente, e andam roubando, e fazem
violência ao aflito e ao necessitado, e ao estrangeiro oprimem sem razão.”
Ezequiel 22:26-29.
O texto acima foi escrito muitos anos antes
de Malaquias. Já naquela época Deus tinha transmitido mensagens duras contra os
sacerdotes, condenando as suas más práticas. Indiscutivelmente foram eles os
opressores do povo e foram eles também os que roubavam e agiam com violência
contra os aflitos e necessitados.
Assim, respeitando o contexto, é justo
concluir que o pronome “vós” mencionado em Malaquias 3:7-10 refere-se aos
SACERDOTES desonestos. Esses sacerdotes eram culpados de roubar a Deus e por
isso Ele os repreendeu severamente, conforme Malaquias 1:6 e 2:9. Deus estava
cansado da desonestidade deles. Por estas razões as maldições estavam sendo
direcionadas a eles (Malaquias 1:14, 2:2 e 3:9).
III
– UM HISTÓRICO DE PERVERSÃO DO SACERDÓCIO LEVÍTICO
O sistema sacrifical concedia aos
sacerdotes excelente oportunidade de ensinar o plano da salvação aos
transgressores. No entanto, os rituais celebrados pelos sacerdotes no santuário
foram pervertidos. O sacrifício de animais tornou-se uma fonte de renda para
eles. Alguns dos sacerdotes corruptos viram perfeitamente que quanto mais o
povo pecasse e quanto mais trouxesse ofertas pelo pecado e ofensas, tanto maior
porção lhes caberia.
Chegaram ao ponto de animar o povo a pecar.
Está escrito acerca dos sacerdotes corruptos: “Alimentam-se do pecado do Meu
povo, e da maldade dele têm desejo ardente.” Oséias 4:8. Afirma este texto que
os sacerdotes, ao invés de admoestar o povo e insistir em que deixasse o
pecado, tinham “desejo ardente” de sua maldade, e almejavam que pecasse outra
vez e voltasse com outra oferta pelo pecado.
A degradação do sacerdócio ocorreu já na
primeira fase de sua existência (I Samuel 2:13-16). Deus ordenara que a gordura
fosse queimada sobre o altar, e que se a carne fosse comida, devia ser fervida.
Os sacerdotes, contudo, desejavam a sua porção crua com a gordura, de modo que
a pudessem assar. Deixara de ser uma oferta sacrifical, para tornar-se, em vez
disso, uma festa de glutonaria. A Palavra de Deus diz que “era, pois, muito
grande o pecado destes mancebos perante o Senhor, porquanto os homens
desprezavam a oferta do Senhor.” I Samuel 2:17.
Com o passar do tempo a corrupção se
generalizou a tal ponto que o cargo do sumo sacerdote revestiu-se de caráter
político, ao ser ele designado pelo governo. Os lucros das grandes festas eram
repartidos com os oficiais superiores. Todo o plano de Deus foi corrompido
pelos sacerdotes. Por isso a expressão de Jesus: “A minha casa será chamada
casa de oração; vós, porém, a fazeis covil de ladrões.” Mateus 21:13.
Muitos dos sacerdotes possuíam um amargo
ressentimento contra os profetas. Eles odiavam os homens que eram enviados para
repreendê-los. Muitas das perseguições movidas contra os profetas no Antigo
Testamento foram chefiadas ou instigadas pelos sacerdotes. Os profetas foram
por eles perseguidos, torturados e mortos.
Os oponentes de Cristo eram sempre os
sacerdotes, os escribas e os fariseus. Quando o Senhor Jesus foi apresentado
perante Pilatos, foram os sacerdotes os que Lhe acusaram (Marcos 15:3). Oferecendo-Se
sobre o Calvário, tornou sem valor a partir de então o sistema sacrifical.
Pessoalmente, durante o Seu ministério, Cristo não ofereceu sacrifício algum,
porque Ele não pecou, e, ensinando os homens a não pecar, feriu o cerne da
perversão sacerdotal.
Não se deve pensar, todavia, que todos os
sacerdotes eram ímpios. Muitos homens fiéis podiam ser contados entre eles.
IV -
CONCLUSÃO
Os sacerdotes foram incapazes de discernir
o profundo significado espiritual do seu serviço simbólico. As gloriosas
verdades, que estavam claramente delineadas neste serviço sagrado, foram
obscurecidas, por causa da sua desobediência aos preceitos de Deus.
De uma maneira solene os sacerdotes
impenitentes foram advertidos sobre o dia do julgamento por vir e para eles foi
endereçado o seguinte convite de Deus: “Tornai vós para Mim e Eu tornarei para
vós.” Malaquias 3:7.
Ao rejeitarem este afetuoso convite de
Deus, eles selaram o seu destino. Mais tarde, nas proximidades do fim do
ministério terrestre de Cristo, os principais sacerdotes ouviram do Mestre a
parábola da vinha (Mateus 21:33-46). Havendo retratado ante os sacerdotes o seu
ato final de impiedade, Cristo dirige-lhes a pergunta: “Quando, pois, vier o
Senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?” Os sacerdotes haviam acompanhado
a narrativa de Jesus com profundo interesse. Sem considerar a relação que havia
do assunto para com eles mesmos, a resposta deles foi a seguinte: “Fará perecer
miseravelmente a esses maus, e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu
tempo lhe entreguem os frutos.” Inadvertidamente haviam eles pronunciado sua
própria condenação. Com a morte de Cristo o sacerdócio levítico foi extinto e
no ano 70 d.C. o Templo de Jerusalém foi destruído pelos romanos.
Desde então Deus desejou atuar em cada
indivíduo, transformando-o em um templo Seu, no qual pudesse ser exercido um
sacerdócio santo e aceitável:
“Ou
não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós,
proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” I Coríntios 6:19
“Vós
também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo,
para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo.” I
Pedro 2:5.
“Mas
vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido,
para que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua
maravilhosa luz.” I Pedro, 2:9.
Nunca esqueçamos que Deus é honrado com a
pureza do coração com que amamos, com o tesouro com que enriquecemos os
necessitados e com o esplendor do nosso temor e dedicação.